domingo, 2 de outubro de 2011

Xícaras do destino



Estavam naquele bar antigo, calçando seus sapatos solitários, em mesas separadas, encarando-se feito dois leões que lutavam pela mesma presa.Ela tinha os dedos pousados num livro amarelado, cujo não prestava atenção, ele, mãos mundanas num cigarrinho qualquer. 
— Não sabia que agora gostava de ler Shakespeare. — ele disse sentando-se na cadeira gelada do bar. Lá fora, a chuva caía.
— Não sabia que agora gostava de fumar. — falou ela fechando o grosso livro. — E Hamlet é uma obra muito boa.
— Nós costumávamos ser literatura. 
— Por isso não deu certo: Era literal de mais.
Ele piscou. 
— Eu deixei você ir. — assumiu.
— É.
— Não vai falar nada?
— Sim. Garçom…
O garçom mirrado se aproximou. Ela pediu um copo de café com adoçante.
— Parou com a açúcar?
— Coisas doces atraem formigas e diabetes. — suspirou ao tomar um gole do liquido preto. 
— Você era doce.
— Era. Tu me deixou azeda.
— A culpa é sempre minha?
— A maioria das vezes.
— Viu, a gente já tá brigando de novo.
— Você procura.
— É.
(silêncio)
— Não vai falar nada?
— Acho que adeus. — falou ele levantando-se. O cigarro ainda na mesa, o livro ao lado.
— Você sempre dá as costas. — lembrou-se.
Ele sentou-se novamente. O rosto mais livido, mais pálido do que nunca. Os cabelos cortados, pra cima, os lábios pedindo por algo que ela já conhecia.
— Não disse adeus? — perguntou ela.
— A Deus, eu quis dizer. — respondeu. — Quis dizer que deixo à Deus. 
— A Deus dará? — ela sorriu.
— Sem nunca dar adeus.