quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Scarline

Você dizia que tudo que eu escrevia não fazia sentido e aí nós brigávamos. Você saía de casa e voltava uma semana depois, me pedindo desculpas. Um dia você chegou cansado e eu, como sempre, estava escrevendo. Passou seus olhos sobre aqueles rasbiscos e veio com aquela mesma história de sempre, a do “não faz sentido.” E então você voltou para a casa de sua mãe. O tempo passou e quando eu já havia parado de escrever, encontrei todos aqueles rasbiscos sem sentidos jogados dentro de uma gaveta. Li tudo que ali estava escrito, ele tinha razão, nada tinha sentido. Nós nunca tivemos sentido, estavamos juntos por falta de opção. E aí ele voltou, arrependido. O livro queimava na lareira. “Agora tudo faz sentido” sussurrou em meu ouvido. “Não, nada nunca fez sentido, era tudo sobre você, e você nunca fez sentido para mim.” Ele então tirou um pequeno livro do bolso e jogou junto ao meu . “Se eu nunca fiz sentido para você, tudo bem. Saiba que você sim deu sentido à minha vida, e eu não a quero sem você. Eu também escrevia sobre você, eu amo você.” Celou seus lábios nos meus e deu-me um beijo, de despedida. Estava acabado, as palavras que nunca fizeram sentido, agora queimavam, lado a lado e, mais uma vez, eu o vi sair pela porta da frente, dessa vez para sempre, o que não fazia sentido.

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